Digimon Inside: Episódio 1 - Oi, Eu sou Alan!

- Hey! Espere! Para ai, por favor! – gritava o garoto desesperado correndo

atrás do ônibus escolar.

Seu nome é Alan Summers, estudante do último ano da Escola Municipal de

Neoville. Ele era um garoto um tanto desajeitado e anti-social. Usava óculos

tão randes que pareciam que cobriam todo o seu rosto, seu cabelo era escuro

e bem penteado (até demais). Normalmente usava uma camisa social branca

e uma calça preta que combinava com os sapatos de mesma cor. Sim, ele era

um perdedor e tanto.

O ônibus parou, por sorte, pois ele apenas havia andado alguns metros pela

Squid Street, rua da casa de Alan.

- Santo Deus! Obrigado! – disse ele apressando o passo e alcançando o

veículo parado. O motorista abriu as portas dobradiças e permitiu que ele

entrasse.

- Desta vez foi quase hein Alan! – disse Bill, o motorista, sorrindo para Alan e

logo depois colocou o ônibus em movimento novamente, virando os olhos para

a rua.

Alan assentiu sorrindo, respirou fundo e virou seus olhos negros e inseguros

para o corredor do ônibus. Seu rosto transpirava por conta da corrida que

tivera há pouco, e agora era de nervosismo. Sim, pois não há coisa pior para

um nerd loser do que chegar por último no ônibus da escola, cheio daqueles

que costumam chamar de “valentões”. Eles olhavam para Alan como se

fossem comê-lo com os olhos, viravam o rosto para seus companheiros e eles

começavam a rir.

O garoto tentou ignorar os olhares zombadores enquanto caminhava pelo

corredor

torcendo para que ninguém passasse o pé para que ele caísse, como

geralmente faziam. Seus olhos se mexiam de um lado para o outro procurando

algum lugar vago para se sentar e só encontrava olhares de reprovação. Claro,

quem iria quere sentar ao seu lado?

- Hey Alan! Senta aqui do meu lado! – disse uma voz irritando vindo do fundo

do ônibus. Alan desejava que não fosse com ele, mas ele era o único cara com

aquele nome ali no ônibus.

Sem muitas opções, ele caminhou até lá e se sentou ao lado dele.

Seu nome é Eduardo, estuda na mesma classe de Alan e era seu único

companheiro desde a quinta série. Eduardo era um cara legal, segundo Alan,

mas era um tanto...”excêntrico”. Seu cabelo é loiro despenteado, o rosto

pipocado de espinhas, usa aparelho (que junto com seu excesso de salivação,

tornava sua fala extremamente grotesca e irritante para quem ouve, além de

dar um belo banho de saliva), olhos verdes, um corpo realmente magro e a

única coisa que ele tinha de normal eram suas roupas que eram como de

qualquer garoto da sua idade: camisas de marca, calça jeas e tênis da moda.

Mas não era sua aparência que envergonhava Alan, e sim suas atitudes e sua

reputação.

- Eu sabia que você iria se atrasar para o ônibus de novo – disse ele tirando

a mochila do assento ao seu lado que usara para reservá-la a seu amigo e

colocando no colo.

- Obrigado, Edu – disse Alan se sentado no lugar da mochila.

- E então, por que se atrasou de novo?

- Pelo mesmo motivo de sempre, não consegui dormir direito e quando

consegui cair no sono, já era quase hora de acordar.

- Teve aquele sonho estranho de novo?

- Sim. Não agüento mais.

Nas últimas noites, Alan tem tido sonhos estranhos. Ou melhor, pesadelos. O

sonho basicamente é ele correndo de uma fera enlouquecida que o persegue

durante horas. Alguns sonhos, Alan é comido pela fera – nessas horas ele

acordava todo suado e tinha receios em voltar a dormir porque tinha certeza

que sonharia novamente com aquilo -, em outros ele conseguia pular para

dentro do ônibus da escola e escapar da fera. Mas todos esses sonhos, seja

lá como for, ele sempre acaba diante do espelho do seu quarto olhando a fera

tentando sair de lá para devorá-lo.

O ônibus chegou na escola cerca de meia hora depois e ao descer do veículo,

Edu e Alan logo encontraram com a entrada da escola. Ela não era muito

grande, mas também não era pequena. Logo de cara havia uma grande

escada que levava até a porta de entrada da escola e acima dela havia um

enorme letreiro escrito em vermelho “E.M. de Neoville”. A escola possuía dois

andares e as janelas de algumas classes ficavam voltadas para a movimentada

Avenida Anjos do Senhor – nome dado por um padre quando a cidade estava

apenas sendo construída, há uns 50 anos atrás. Nas paredes, que um dia

foram brancas, agora haviam pixações de vários tipos, cores e tamanhos. Eram

tantas que ficava difícil saber o que estava escrito em algumas delas, exceto os

palavrões, que eram escritos com orgulho.

Alguns minutos depois, os dois jovens já estavam dentro de suas classes

esperando o professor de química, carinhosamente chamado de Sabiá graças

ao seu pequeno corpo e seu nariz pontudo e grande. Eles estavam sentados

sobre suas carteiras, que ficavam no meio da classe, em baixo do único

ventilador.

- E ai, cara, estudou pra prova de matemática hoje? – perguntou Alan, já

esperando a resposta.

- Putz cara! Nem me lembrava dessa porcaria! Fiquei conversando com o

Tentomon até tarde no Worlds Door e esqueci.

- Eu sabia! Na boa cara, qual a graça em conversar com um “alien” pelo

computador? Você pode conversar comigo, se quiser!

- Ah, lá vem você com esse seu preconceito besta com os digimons! Eles são

o máximo! Eu até poderia conversar com você no Messenger, desde que você

viva em um mundo paralelo ao nosso e tenha poderes.

Alan girou os olhos e depois voltou-se para o amigo. Iria chamá-lo de idiota se

o professor não entrasse na classe pedindo para que todos se sentassem para

começar a aula.

As aulas se seguiram como sempre: Alan fez as lições e quando terminou

ficou conversando com Edu que não parava de falar de seu Tentomon e suas

aventuras. A prova de matemática não foi tão difícil, mas um 10 Alan com

certeza não conseguiria, no máximo um 8. Já Edu não passaria de 4. Durante

a prova, Alan viu que o amigo não entendia nada da prova, ele até poderia

passar-lhe cola, mas a professora Montes estava de olho nos dois.

Quando o sinal tocou, os alunos saíram apressados como sempre, a maioria

estava morta de fome e queria chegar logo em casa. Alguns gritavam

como loucos - a chamada “síndrome do ensino médio” – e o coro de vozes

conversando era quase infernal com todos aqueles alunos andando pelos

corredores e pelo pátio da escola, todos indo para uma só saída.

Alan e Edu caminharam juntos, em direção ao portão de saída. Edu ainda

falava sobre seu Tentomon e Alan já estava ficando de saco cheio.

- Cara! Eu queria que os digimons pudessem vir ao nosso mundo! – disse Alan

sorrindo feito idiota, segundo Alan.

- Mesmo? Pra quê?

- Oras, ai o Tentomon podia ser mais um no nosso pequeno grupo. Já pensou?

- AHHH! Cansei, velho! – exclamou Alan lançando um olhar irritado por trás

dos óculos para Edu, que se surpreendeu com a atitude do amigo – Você

não para de falar dessa droga de Tentomon! Haja saco, viu! Quer saber? Eu

vou sozinho para casa, prefiro ir a pé do que ter que ouvir você falar nesses

malditos digimons de novo!

- Você vai a pé?! – indagou Edu preocupado.

Alan nem ao menos ouviu o amigo perguntando, apressou o passo passando

por todo mundo no meio da multidão que seguia para a saída e quando

encontrou-a, desceu as escadas rapidamente. Estava realmente irritado. Aliás,

Alan era o tipo de cara que se irrita com qualquer coisa. Se não fosse tão fraco

e inútil, poderia espancar qualquer um que lhe irritasse, mas como não podia,

tinha que guardar toda a raiva e ira dentro dele.

Nos primeiros metros ele logo começou a se arrepender de ir a pé para casa,

pois ela ficava muito longe e ele não estava muito a fim de caminhar pois

estava com fome e com sono.

- Ah, acho que eu devia pedir desculpas ao Ed...MAS O QUÊ É AQUILO?! –

exclamou Alan abismado, com os olhos arregalados, braços tremendo, espinha

gelada e lábios trêmulos.

Ele não acreditava no que seus olhos viam. No início achou que fossem seus

óculos embaçados, mas algo lhe dizia que óculos embaçados não criavam

imagens aleatórias na sua mente. Era ele! O monstro do seu sonho, parado

olhando para ele com os olhos vermelhos e a boca com dentes afiados. A cena

mais parecia um déjà vú para Alan e infelizmente ele sabia que não era. Sim,

ele sabia! Sabia que a qualquer momento aquela coisa iria correr atrás dele.

Sabia que ela atravessaria a avenida movimentada, saltando por cima dos

carros até alcançá-lo. O ônibus que deveria levá-lo para casa passou nesse

instante, Alan podia pular para dentro dele para se salvar como no sonho, ou

deixar que a fera humanóide lhe devorasse. Era agora ou nunca.

“Meus músculos não se mexem!”, pensou ele. E estava certo, ele não

conseguia mover um músculo, apenas ficara ali parado observando a fera fitá-

lo com os olhos vermelhos e profundos.

No entanto, Alan nem precisou se mexer para que pudesse sair daquela sem

ser comido. Sentiu algo atingindo seu pescoço silenciosamente. Levou a mão

direita até lá e notou que era algo macio, como se passasse a mão em um

pequeno pássaro semi-despenado.

- Um dardo? – disse confuso, já se sentindo meio fraco.

Virou os olhos para o outro lado da avenida novamente para ver se a fera

vermelha quase humana estava lá, mas não estava. Sentiu-se aliviado, mas

agora era tarde demais pois seu corpo já não se agüentou mais em pé por

conta do veneno do dardo e seus sentidos se foram antes que seu corpo se

precipitasse ao chão...

Não perca o segundo episódio, na próxima segunda: Flamemon Inside